Assim como as artes performativas, a escrita interessa-me na medida em que oferece a possibilidade de inaugurar outros modos de perceber, outras formas de relação com a linguagem e de habitar o mundo. Em 2018, cocriei a editora independente ágrafa, ao lado de Larissa Vaz, construindo a muitas mãos a antologia de poesia tertúlia. Sou autora do livro de poesia A Arte das Miudezas, e tenho textos publicados na revista de literatura luso-brasileira Subversa. Em 2021, participei do Curso Livre de Formação de Escritores, oferecido pela Casa das Rosas. É possível conferir alguns textos no Medium. |
OFICINAS DE ESCRITA
TERTÚLIA | publicação independente | editora ágrafa (Julia Medina e Larissa Vaz) | 2019
Tertúlia nasce do desejo de abrir espaço na estante para a produção de escritoras e artistas mulheres. É uma publicação artesanal, realizada através de financiamento colaborativo, na qual poetas contemporâneas dialogam com autoras do passado.
Tertúlia nasce do desejo de abrir espaço na estante para a produção de escritoras e artistas mulheres. É uma publicação artesanal, realizada através de financiamento colaborativo, na qual poetas contemporâneas dialogam com autoras do passado.
Leia, abaixo, o prefácio da edição:
Em tempos de aridez, não andamos sós. Buscamos unir esforços para abrir brechas e fazer aparecer dessas fendas outras formas de pensar o agora. Tertúlia surge do desejo de investigar essas possibilidades no campo da experimentação com a linguagem, investindo no passado como motor e no diálogo como caminho. A essas inquietações, soma-se a vontade de aproximar escritos de mulheres, compreendendo suas diferenças e complexidades para evitar estereótipos e simplificações. Não se trata, portanto, de perseguir definições ou uma unidade temático-formal. Há aqui, pelo contrário, uma aposta intuitiva na potência desarticuladora desse avizinhamento de vozes.
Guiadas por esses interesses, convidamos pouco mais de 30 poetas para este projeto, dentre amizades, admirações e indicações, chegando assim às 18 mulheres que compõem este livro. Criar a partir da leitura de uma autora morta, essa foi a proposta feita às escritoras que integram esta publicação. Diante desse chamado, coube a cada escritora eleger uma poeta do além como interlocutora, priorizando um ou alguns de seus textos como ponto de partida. Os resultados aqui reunidos revelam as muitas maneiras de criar a partir de um mesmo comando e apontam para questões que permeiam o processo de trabalho com a escrita.
Longe de formar um conjunto uníssono, Tertúlia constrói, na verdade, uma constelação de vozes, deste e de outros tempos. Colocando lado a lado mulheres de vivências, dicções e momentos históricos distintos, arriscamos reexaminar o passado e no caminho evocamos os mortos — esses que nos atravessam. Ao fazê-lo entre mulheres, reviramos ainda mais esse terreno informe e mutável que tentam delimitar como sendo o feminino.
Temos atravessado golpes e insistido em pesquisar outros modos de produzir e habitar o presente. A opção por uma forma de produção coletiva e artesanal passa também por essa busca. Esta é uma publicação feita a muitas mãos, da concepção dos textos e do projeto gráfico à costura das páginas. Por isso, agradecemos aos que tomaram parte em cada etapa de elaboração dessa tentativa de provocar encontros e deslocamentos.
Em tempos de aridez, não andamos sós. Buscamos unir esforços para abrir brechas e fazer aparecer dessas fendas outras formas de pensar o agora. Tertúlia surge do desejo de investigar essas possibilidades no campo da experimentação com a linguagem, investindo no passado como motor e no diálogo como caminho. A essas inquietações, soma-se a vontade de aproximar escritos de mulheres, compreendendo suas diferenças e complexidades para evitar estereótipos e simplificações. Não se trata, portanto, de perseguir definições ou uma unidade temático-formal. Há aqui, pelo contrário, uma aposta intuitiva na potência desarticuladora desse avizinhamento de vozes.
Guiadas por esses interesses, convidamos pouco mais de 30 poetas para este projeto, dentre amizades, admirações e indicações, chegando assim às 18 mulheres que compõem este livro. Criar a partir da leitura de uma autora morta, essa foi a proposta feita às escritoras que integram esta publicação. Diante desse chamado, coube a cada escritora eleger uma poeta do além como interlocutora, priorizando um ou alguns de seus textos como ponto de partida. Os resultados aqui reunidos revelam as muitas maneiras de criar a partir de um mesmo comando e apontam para questões que permeiam o processo de trabalho com a escrita.
Longe de formar um conjunto uníssono, Tertúlia constrói, na verdade, uma constelação de vozes, deste e de outros tempos. Colocando lado a lado mulheres de vivências, dicções e momentos históricos distintos, arriscamos reexaminar o passado e no caminho evocamos os mortos — esses que nos atravessam. Ao fazê-lo entre mulheres, reviramos ainda mais esse terreno informe e mutável que tentam delimitar como sendo o feminino.
Temos atravessado golpes e insistido em pesquisar outros modos de produzir e habitar o presente. A opção por uma forma de produção coletiva e artesanal passa também por essa busca. Esta é uma publicação feita a muitas mãos, da concepção dos textos e do projeto gráfico à costura das páginas. Por isso, agradecemos aos que tomaram parte em cada etapa de elaboração dessa tentativa de provocar encontros e deslocamentos.
A ARTE DAS MIUDEZAS | publicado pela Editora Multifoco (Rio de Janeiro, Brasil) | 2015
Veja, abaixo, trecho do prefácio, escrito pelo poeta Evandro von Sydow Domingues:
Aquele anjo que rogou praga / bênção no Carlos – ser gauche na vida – e que depois visitou a Adélia, a quem anunciou que carregasse bandeira, apareceu à Julia e falou: “Vá procurar as miudezas”. Não menos gauche, não menos mulher, Julia foi. O resultado está aqui. Com sua linguagem simples mas não pueril, por vezes infantil (no sentido da Maria Mazzetti citada), mas não ingênua, Julia desconstrói frases feitas como em “esse amor / dá pano / pra roupa inteira”, demonstrando com isso desconstruir cotidianos estéreis para neles descobrir o espanto da poesia. O espanto da poesia ainda mais espantoso, pois encontrado onde normalmente não se procura. A isto o pequeno livro nos convida. E não me parece pouco. Nem pequeno. |